quinta-feira, 27 de março de 2008

Jardineiro

Sei que agora és pássaro
e que coleciona flores
Não deve ser fácil
cuidar de tantos jardins
Ventos sopram seu sobrevôo
em outros campos
E aguardo na relva
sem muito preocupar
Às vezes à noite quando
o silêncio é latente
gotas salgadas ajudam
o solo a se manter arado
Embora já falte uma
de minhas pétalas
jardineiro que és não me
deixas murchar.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Odisséia

Esse frio mal começou a cortar
e meu poema não passa de duas linhas
Talvez porque eu não ache no inverno
o conforto que encontro ao lado do meu amor
Nuvens cinzentas escondem as palavras
e deliro que haja algum sentido
pra estas enchentes,
porque quando não se escutar mais
o canto das sereias
transbordarão tantos beijos quantos forem
os pingos dessa chuva.


sexta-feira, 21 de março de 2008

Lua Nova

Por isso todas as noites corro pra vê-la
no mesmo horário,
aquele que a deixa
plenamente à mostra.
E me banho com sua luz fria,
de olhos fechados,
sorriso nos lábios,
cabeça erguida...
Tudo de bom e ruim que havia antes
eu não mais teria.
Nova fase: solidão.
Boas vindas ao inédito!
Mas que vá embora tão rápido quanto chegou

terça-feira, 18 de março de 2008

Alberto Caeiro

Talvez quem vê bem não sirva para sentir
E não agrade por estar muito antes das maneiras.
É preciso ter modos pra todas as cousas,
E cada cousa tem seu modo, e o amor também.
Quem tem o modo de ver os campos pelas ervas
Não deve ter a cegueira que faz fazer sentir.
Amei, e não fui amado, o que só vi no fim,
Porque não se é amado como se nasce mas como acontece.
Ela continua tão bonita de cabelo e boca como dantes,
E eu continuo como era antes, sozinho no campo.
Como se tivesse estado de cabeça baixa,
Penso isto, e fico de cabeça alta
E o dourado do sol seca as lágrimas pequenas que não posso deixar de ter.

Como o campo é grande e o amor pequeno!
Olho, e esqueço, como o mundo enterra e as árvores se despem.

Eu não sei falar porque estou a sentir.
...

(Fernando Pessoa)

domingo, 16 de março de 2008

Saudade


Fechei a janela sem olhar
o que havia do outro lado.
cheguei a me arrepender de tal ato,
mas fingi não me importar.
não quis olhar o céu
tampouco suas estrelas,
todas elas já cansaram
dos meus pedidos repetidos.

sábado, 15 de março de 2008

A vida muda

Num piscar de olhos
a vida muda,
e não é mais livro aberto.

Num lugar distante
a vida muda,
e não é só mistério (este não há).

E se costumava olhar o céu
e ver azul,
hoje o azul que olha
sem pressa de decifrar.

A vida muda
o céu não.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Babilônia


Hoje amanheceu com chuva
e entardeceu da mesma forma
mas eu não percebi
porque quando céu é branco me perco nas horas
e me perco em mim mesma
e de alguma forma esqueço a babilônia
porque o céu daqui não tem tantas estrelas a noite
mas quando está branco aqui...
está branco em todo lugar


Gaia


Gaia, era a deusa da Terra, como elemento primordial e latente de uma potencialidade geradora quase absurda. Segundo Hesíodo, ela é a segunda divindade primordial, nascendo após Caos.

Gaia - Deusa Grega da Terra;
Gaia - Hipótese científica da Terra como ser vivo;
Gaia - Conceito filosófico relativo à sobrevivência da vida na Terra.



fonte: wikipedia

quinta-feira, 13 de março de 2008

Coisa Linda

Faz tempo que o não usual me agrada.
Miro as coisas além de sua superfície:
olho o azul do céu lilás;
leio as palavras de um livro sem capa;
vejo pessoas e não cores;
vejo a alma e não as pessoas.
Faz pouco tempo que percebi isso como dádiva,
antes era um gosto esquisito-
um motivo de risada.
Hoje a risada da lugar a um sorriso suave
que repousa nos lábios da mais bela flor
Mas só eu sei disso. E só eu entendo.
Quando aprendi a ver corações ao invés de pessoas
foi que descobri que eu não era diferente
E passei a me ver no olhar do outro enquanto falo.
Alma, coração e olhar costumam me guiar,
e como 3 direitas viram uma esquerda,
voltam as risadas e toda aquela interrogação.

sábado, 8 de março de 2008

Poemas Antigos

Incondicional

Curioso é querer-te
além do que se espera
de incondicional tentar
por outonos, primaveras
Saboroso é o deleite
ilusão a qual se entrega
de irracional pensar
em seus beijos, quem me dera!


Conceitos

Impostos à força
ou até coniventes
conceitos esbarram
num lado da mente
em que todo homem são
se transforma demente
quando para e percebe que pensa em vão.
Não vale de nada
a palavra que prega
é mais forte que o forte
prisão que renega
e o inútil se cabe na batalha de então.
De alma vendada
olhos bem abertos
sentimentos se trancam
em valores cobertos
e o gosto cinzento
amarga a beleza
no tato não-sincero
da real visão.
E então um colapso
invade o sensato
e o abismo do fútil
se encontra a um passo
onde a queda do corpo
é alívio imediato
provocando na mente
intenso torpor.

(31-05-05)