sexta-feira, 18 de abril de 2008

Fernando Pessoa

Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.

A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.

Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Paisagem

Registrado em fotografia
uma paisagem,
tom sobre tom.
Ela, sereia, em ondas leves
formadas pela brisa
pernas pedras e coxas
feições plácidas
colo meio amostra
mão estendida
Ele, Lobo, furacão do mato
marcas cachos e músculos
cabeça a voar
Ela-rio, cachoeira-ele
dedos, mãos, leve pouso
Ela Rio, cachoeira dela
-Repousa em meu leito já que
nasces de um toque
-Tenho pressa, sou correnteza
não devo parar

domingo, 6 de abril de 2008

Vermelho-fulô



Lembro sempre do amarelo-expansivo
e do azul-claro-pijama-quentinho
Sinto falta de um tom
verde-refúgio
pra colorir minha vida
de lilás-céu

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Coragem


Passeava eu no campo
acompanhando uma borboleta
Certa vez acordei cedo
e não a vi
Pra não andar sem rumo esperei
na beira de um rio
e quando ela veio
não pude deixar de me alegrar
Mas era outra trazendo um recado,
que eu não mais teria minha borboleta azul
E eu já sem rumo e tão preocupada
permaneci no rio enfrentando as duras cheias
Muitos dias, semanas depois,
a borboleta mais linda voltou
e abriu o nevoeiro que
havia em minha frente de tal forma
que nem pude atirar as pedras que separei
A partir de então ela me guiava só de noite
às vezes nem estava lá
e eu sempre com as pedras no bolso
mas sem coragem de atirar
Porque quem aprecia um azul cor de céu
acaba lidando com o sublime
e nos segundos que ocorre a caminhada
desmedido é o avanço na relva
O bolso pesado incomoda
mas prefiro continuar só andando
o medo de não ter o chacoalhar de suas asas
se reforça na paz que por hora triunfa

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Ilusão

As opções eram vastas
e precisavam de nós dois pra acontecer
mas você seguiu outro caminho
blefando promessas
E todos os planos pra amanhã e depois
não se concretizariam
Tamanho foi o desânimo
que mal pude discordar
engoli seco;
deitei pra molhar o travesseiro;
fui andar;
tomei sorvete;
não adiantou.
O dia não acabara ainda e
não devo matar a esperança
Mas tamanho foi o desânimo
que já não espero
pra não ficar na vontade
Tão perto e tão longe
Não era pra ser assim
Assim doi mais...
muito mais.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Presente

O presente não nega:
estás por aqui.
E esqueço os momentos passados
o futuro idealizado
e o silêncio da solidão.
Um presente! Não nego:
estás por aqui.
E felizes são meus olhos
porque posso te ouvir
ainda há distância
mas há de convir,
que nada é perfeito
e é preciso compartilhar.
Se faz presente:
estás por aqui.
Reconheço a tristeza
mas esta não vinga,
quando perto não lembro
porque antes sofria
e só tenho sorrisos
mesmo ouvindo o silêncio
digo que sim e finjo que entendo
porque estou aqui sozinha
mas
estás logo ali.